21/12/2018

A febre maculosa é transmitida a seres humanos e animais por meio da picada de carrapato infectado e pode levar à morte. Uma das maneiras de identificar se uma área natural oferece risco, é capturando o carrapato e verificando se ele é compatível com a bactéria Rickettsia rickettsii, causadora da doença. Mas qual a melhor forma de se capturar um carrapato?

A pesquisa de Alessandra Augusta de Freitas, recém-formada em biologia pela Faculdade Eduvale de Avaré e estagiária do Instituto Florestal na unidade do município, teve como objetivo de comparar diferente técnicas de captura e verificar a taxonomia (descrição, identificação e classificação dos organismos) para saber se o tipo de carrapato é transmissor da febre maculosa. Classificando a área de risco a população, em caso positivo.

Sob a orientação de Carolina Vieira da Silva, e co-orientação de Edgar Fernando de Luca e Thiago Fernandes Martins, a autora do projeto foi motivada pela sua paixão aos seres vivos, a área da saúde e questões ambientais. “Tudo se encaixou, porque se trata de saúde pública, o que envolve o meio ambiente e a população”, conta Alessandra.

A estagiária do IF passou por um treinamento na Superintendência de Controle de Endemias (SUCEN) de Botucatu, que explicaram como fazer os métodos de captura de carrapato. “Foi tudo muito rápido e prático, aprendi muita coisa. E tudo isso contribuiu para um projeto muito rico, especial e bem feito”, relata.

Para comparar as técnicas de arraste de flanela e gelo seco para a captura de carrapatos foram instalados armadilhas em pontos diferentes do Horto. A pesquisadora conta que os métodos usados na comparação foram alvos de muito debate. “No início faria apenas com a flanela, por ser um método mais barato e acessível, mas outros pesquisadores me aconselharam a fazer com gelo seco, mesmo sendo de difícil acesso e mais caro. Assim decidi fazer uma comparação, junto com a minha orientação, dos períodos chuvoso e seco” explica.

No período chuvoso, o método de arraste de flanela capturou entre 0 e 104 indivíduos primários (larva ou ninfa). “A técnica de gelo seco não pode ser efetuada no período chuvoso, já que na chuva o gelo derreteria” informa Alessandra. No período seco a flanela apanhou entre 0 e 10 indivíduos primários, já o método de gelo seco entre 0 e 125 primários e entre 0 e 3 adultos.

A técnica de arraste de flanela, embora seja mais barata e de mais fácil aplicação, foi ineficiente para a captura de adultos. “O uso da armadilha gelo seco é a única técnica que captura todas as fases dos amblyomma (carrapato estrela). Portanto, foi a técnica recomendada para amostragens de carrapatos na área estudada, mediante a relatos de outros profissionais e também literaturas”, esclarece Alessandra.

A bióloga foi a primeira a usar o gelo seco para a captura de carrapatos na Floresta de Avaré. “Fui até agora uma das primeiras que atuou com duas técnicas ao mesmo tempo”, comemora.

Os frutos da iniciação científica

A pesquisa ganhou o terceiro lugar no 12º Seminário de Iniciação Científica do Instituto Florestal, realizada em agosto, e vem se destacando no meio acadêmico.

Em 2017 e 2018, Alessandra apresentou seu projeto no Congresso de Iniciação Científica Eduvale (Conince), que ocorre há mais de 10 anos. Foi convidada pelos seus antigos professores a realizar rodas de conversa em duas escolas estaduais, nas quais estudou na infância e adolescência.

Sua pesquisa também foi tema de seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em biologia. A orientadora de Alessandra, Carolina Vieira da Silva, disse que o projeto será publicado como artigo científico.

Thiago Fernandes Martins é pós doutor pela USP e curador da Coleção Nacional de Carrapatos Danilo Gonçalves Saraiva (CNC) junto com professor Marcelo Bahia Labruna. A coleção possui o maior arquivo de carrapatos da América Latina e da região Neotropical e está localizada na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Universidade Paulista. Thiago, além de ter sido co-orientador de Alessandra, também a convidou a fazer mestrado com a equipe de Labruna. Onde terá a oportunidade de realizar uma pesquisa internacional, com foco na América do Sul, sobre a toda a taxonomia e evolução de carrapatos.

“Só tenho a agradecer ao Instituto Florestal, à minha orientação, à equipe da USP e a todos os funcionários que me auxiliaram com a pesquisa. Sem cada um deles nada disso seria possível” diz Alessandra.

Fotos: Acervo pessoal

Mais informações: alessandraa.defreitas@hotmail.com