17/04/2017

A mais recente edição da Revista do Instituto Florestal publicou pesquisa que divulga 339 espécies de aves registradas em 14 áreas naturais protegidas. A riqueza encontrada nas áreas estudadas, que representam apenas 0,056% da superfície continental do Estado, corresponde a 41% do total de 824 espécies de aves registradas em São Paulo.
Os levantamentos foram realizados entre 2007 e 2016 para subsidiar Planos de Manejo e propostas de criação de Unidades de Conservação. Esta pesquisa compilou esses dados para avaliar a relevância destas áreas para a conservação da biodiversidade do Estado. As aves constituem o grupo de organismos mais facilmente inventariado e a análise das assembleias pode oferecer subsídios para responder a esta questão. Camilla Baesse, ecóloga pela Universidade Federal de Uberlândia (MG), em sua Dissertação de Mestrado “Aves como biomonitoras da qualidade ambiental em fragmentos florestais de cerrado”, afirma que as aves respondem rapidamente às alterações do ambiente em níveis global, regional e local, sendo assim excelentes indicadoras de qualidade ambiental, além de ferramentas importantes para compreensão, avaliação e monitoramento das alterações ambientais.
Das 339 espécies registradas, 22 estão ameaçadas de extinção no estado, 53 têm distribuição restrita à Mata Atlântica e seis restritas ao Cerrado.
O estudo foi realizado em 11 áreas protegidas administradas pelo Instituto Florestal (IF) e três administradas, a partir de 2007, pela Fundação Florestal: Estações Ecológicas de Angatuba, Assis, Avaré, Bauru, Itaberá, Itapeva, Marília, Paranapanema, Ribeirão Preto e Santa Maria; Florestas Estaduais de Batatais e Cajuru; e Estações Experimentais de Buri e Itararé. O recorte de unidades escolhido para esta pesquisa foi áreas no interior do estado em que haviam sido realizados apenas levantamentos rápidos.
No artigo é citada a importância do esforço amostral para a detecção de espécies discretas. O esforço amostral pode ser definido como a medida do quanto o pesquisador se dedicou à coleta dos dados, o total de horas, dias ou meses de trabalho, quilômetros percorridos, número de armadilhas utilizadas, entre outros. Em áreas tropicais muitas espécies de animais e de plantas são naturalmente raras e somente com um esforço amostral considerável acabam sendo encontradas pelos pesquisadores. No caso desta pesquisa, mesmo levantamentos rápidos puderam demonstrar a relevância das áreas avaliadas, para a conservação. “O ideal é que tenhamos estudos de longa duração, mas a pressão está cada vez maior para que se reduza o tempo de trabalho em campo em avaliações de impacto ambiental, planos de manejo, etc. Contudo, especificamente para as aves, concluímos que pesquisadores bem treinados podem obter dados relevantes mesmo com levantamentos expeditos”, explica Alexsander Antunes, pesquisador científico do Instituto Florestal e autor do estudo.
O IF já elaborou ou teve participação na elaboração de outros planos de manejo de áreas protegidas do Estado de São Paulo. Os resultados de alguns já foram publicados ou utilizados em artigos que contemplaram estudos de longa duração. Alexsander cita trabalhos sobre as aves do Parque Estaduais Alberto Löfgren, (PEAL), Turístico do Alto Ribeira (PETAR), Carlos Botelho e Estações Ecológicas de Santa Bárbara e Xitué.
O artigo “Aves registradas em 14 áreas protegidas no interior do Estado de São Paulo, Brasil” está publicado na Revista do IF, volume 28, número 1. Os autores são os pesquisadores científicos do Instituto Florestal Alexsander Antunes, Marina Kanashiro e Marilda Eston. Alexsander conta que o título escolhido para o artigo remete ao trabalho de seus antigos orientadores: Dr. Edwin O. Willis e Dra. Yoshika Oniki, pioneiros em estudar as aves das unidades de conservação paulistas que publicaram em 1981 o artigo “Levantamento preliminar de aves em treze áreas do Estado de São Paulo”. “Passados 36 anos e, mesmo com o aumento considerável de ornitólogos e observadores de aves atuando no estado de São Paulo, ainda há muitas lacunas no conhecimento sobre os conjuntos de aves das áreas protegidas. Por isso, entendemos que é relevante divulgar estes dados”, afirma Alexsander.
A pesquisa está publicada na Revista do Instituto Florestal, vol. 28 nº2. Acesse aqui o artigo.
Pequenos oásis
Atualmente, estima-se que a vegetação natural ocupa apenas 17,5% da área do Estado. Em relação aos dois principais biomas do estado, a Mata Atlântica ocupava 69% da área  e hoje está reduzida a 14%, enquanto para o Cerrado os percentuais foram de 14% para 1%.
Apesar das áreas pesquisadas serem relativamente pequenas e isoladas de outros fragmentos florestais, o estudo indica sua relevância de  para a conservação da biodiversidade. A maioria das áreas protegidas do interior de São Paulo segue este padrão. Muitas sofreram uso agropecuário intensivo nos séculos XIX e XX, antes de serem adquiridas pelo poder público. Após sua desapropriação, durante o século XX, as áreas com vegetação campestre e savânica foram utilizadas pelo Serviço Florestal, posteriormente Instituto Florestal principalmente para o cultivo de espécies exóticas, como o pinus, e as áreas florestadas como reservas eventualmente sofriam corte seletivo de árvores. Somente a partir da década de 1980, com a valorização das unidades de conservação pela sociedade, algumas destas áreas foram transformadas em Estações Ecológicas, permitindo a regeneração da vegetação nativa e uma proteção mais efetiva de sua biodiversidade. Mesmo naquelas áreas utilizadas para a experimentação florestal, em grandes trechos foi permitida a regeneração natural da vegetação, principalmente nas Áreas de Preservação Permanente (APPs).
Recategorização para aumentar a proteção
As Estações Experimentais e as Florestas Estaduais são unidades de uso sustentável, enquanto as Estações Ecológicas são de proteção integral, portanto, com objetivos de manejo diferentes. O trabalho mostrou que as unidades de uso sustentável avaliadas apresentaram valores similares aos obtidos para as Estações Ecológicas no número de espécies ameaçadas de extinção e de espécies restritas à Mata Atlântica ou ao Cerrado. “Mudanças no uso da área produtiva destas unidades, previstas para o médio prazo, podem impactar esses parâmetros. Por isso, recategorizar ao menos parte das áreas para um uso mais restritivo pode ser mais adequado para manter essas espécies”, defende Alexsander.
Mais informações: Pesquisador científico Alexsander Zamorano Antunes – Tel. (11) 2231-8555 – Ramal 2028