26/01/2017

O Instituto Florestal (IF) é parceiro em projeto de pesquisa pioneiro do Instituto de Zootecnia (IZ) com o objetivo de analisar o desenvolvimento de plantios de mogno africano em pastos de capim-marandu. A ideia é oferecer um modelo de manejo viável e que seja lucrativo tanto na produção madeireira quanto na produção animal. Os experimentos acontecem em uma área de 30 hectares da Estação Experimental do IZ, no município de Nova Odessa (SP). Coordenado pela zootecnista Alessandra Giacomini, do IZ, o projeto é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

O projeto tem caráter interdisciplinar e envolve pesquisadores de diferentes instituições, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp).

O pesquisador científico do IF Miguel Luiz Menezes Freitas conta que tudo começou em 2013, com uma reunião dos diretores institutos de pesquisa do Estado de São Paulo. Na ocasião, a diretora do IZ Renata Arnandes pediu apoio para pesquisar sistemas mistos de plantio (lavoura/pecuária/floresta). A proposta era a introdução do mogno africano, com o qual há pouquíssimos ensaios. “Eles queriam fazer um trabalho diferente no IZ”, comenta Miguel. “Conversamos, juntamos algumas cabeças e em 2014 saiu o projeto”. Submetido e aprovado pela Fapesp, o projeto recebeu o financiamento de R$ 150 mil. Os primeiros experimentos tiveram início em 2015, com previsão de dois anos. Alguns dados já foram aferidos e primeiro relatório já está concluído, mas trata-se de uma pesquisa de longo prazo.

Luciana Gerdes, agrônoma do IZ, e muda de mogno no pasto

Será que as árvores proporcionam conforto térmico para os animais? Será que o esterco melhora o crescimento das árvores? Será que haverá concorrência entre o capim-marandu e o mongo africano?
O experimento compara diferentes talhões: somente pasto (capim-marandu), pasto com gado, pasto com gado e floresta, pasto com floresta sem animais e floresta sem pasto e nem animais. O trabalho do Instituto Florestal é verificar em que situação as árvores de mogno africano se desenvolverão melhor; se o capim-marandu e os animais influenciam positivamente ou não no desenvolvimento dessas árvores. No experimento, também é possível comparar diferentes espaçamentos entre as árvores, visto que um dos talhões traz uma linha de mogno, o outro traz três.

“O pessoal do IF avalia o crescimento das mudas e pessoal do IZ acompanha a parte de solo e engorda dos animais. Para nós, o importante é avaliar onde o mogno vai crescer melhore verificar o que é mais viável: o sistema puro ou o sistema consorciado”, explica Miguel. Já o Instituto de Zootecnia quer gerar informações sobre onde o gado terá maior engorda, mais prenhez positiva, poderá sair antes para o abate, etc. Mas até o momento, os animais ainda não podem ser soltos, senão comem as mudas de mogno também.

O projeto prevê o trabalho com diversas variáveis e alguns imprevistos sempre podem acontecer. Miguel conta que as mudas de mogno africano sofreram um ataque de lebres, que passaram a comer os ponteiros. Para resolver essa questão, já foi chamado para integrar a equipe o agrônomo Luciano Verdade, professor da Universidade de São Paulo e coordenador do Programa Biota/Fapesp, além de conselheiro do Sistema de Informação e de Gestão das Áreas Protegidas (SIGAP) da Secretaria do Meio Ambiente (SMA).

Algumas pessoas questionaram o porquê de não plantar o eucalipto ou alguma outra espécie da qual já se tem informações. Miguel responde que é justamente por não conhecermos o mogno africano e que como instituições de pesquisa devemos estudá-lo. “Daqui a dezoito anos, que é o padrão para o corte dessa espécie, a gente vai poder informar realmente se esse material vale a pena ou não. Mas a partir do primeiro, segundo ou terceiro ano já se tem um incremento médio anual desse material e é possível comparar com as outras espécies para ver como está o desenvolvimento”, explica.

O pesquisador informa que inicialmente não se trata de um plantio de conservação genética e nem de melhoramento inicialmente falando, mas a partir dos dados de crescimento será possível avaliar se há uma variabilidade dentro do material que foi plantado. Entretanto, o pesquisador acredita que haja pouca variabilidade neste material, visto que as mudas foram doadas por uma empresa.

Usos Múltiplos: menor degradação e mais alternativas de renda
Miguel defende o sistema misto e comenta que há uma tendência usos mistos e mais intensivos das áreas sem danificá-las, fugindo de sistemas de monocultura, como plantio de eucalipto, soja, cana ou pecuária intensiva.”O que se vê muito no estado de SP são pastos degradados. É possível rotacionar e tirar vários produtos do mesmo local. É uma informação importante que a gente tem que dar para o produtor para que ele consiga obter um lucro maior em uma menor área de produção. Você fixa o agricultor do campo, dando a ele mais atrativos econômicos, inclusive agregando valor à sua área pela qualidade do solo”

O pesquisador científico do IF José Arimateia Rabelo Machado também está envolvido diretamente com o projeto. É ele quem cuida da parte econômica, não apenas da floresta, mas também do bovino e do pasto. Ari é responsável por estimar quanto o produtor vai gastar para introduzir o sistema e quanto que ele vai retirar. No experimento, qual talhão vai ser economicamente viável no preço final do animal e da árvore?

Dia de Campo
No dia 17 de dezembro o Instituto de Zootecnia promoveu em sua sede, no município de Nova Odessa, o “1º Dia de Campo”, evento voltado a produtores rurais e pesquisadores, entre outros públicos. O tema foi justamente a implantação de sistema silvipastoril com mogno africano em pastos de capim-marandu. Na ocasião, o correu o lançamento do projeto. Como parte da programação do evento, pesquisadores e técnicos do Instituto Florestal ministraram oficinas para os participantes.  O pesquisador científico Miguel Luis Menezes Freitas falou sobre o acompanhamento do crescimento de árvores. José Arimateia Rabelo Machado, também pesquisador do IF, versou sobre a parte econômica do projeto (controle de custos). Os técnicos Wilson Aparecido Contiéri e Marcos Adilson Palugan deram uma aula sobre controle de formigas.

Este projeto fortalece a parceria não apenas entre os institutos de pesquisa do estado de São Paulo, mas também entre secretarias de governo. O IF é vinculado à Secretaria do Meio Ambiente, ao passo que o IZ responde à Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Mesmo o experimento não sendo realizado em uma unidade nossa, o projeto está registrado na Comissão Técnico-Científica do Instituto Florestal (Cotec), que faz a gestão dos projetos de pesquisa nas unidades de conservação e áreas protegidas do Estado.  O Instituto de Zootecnia tem interesse em fazer novos ensaios, desta vez em áreas do IF.

Fotos: Fernandes Dias Pereira

Mais informações: Pesquisador científico Miguel Luiz Menezes Freitas – Tel. (11) 2231-8555 / Ramal 2069