23/12/2016

O Instituto Florestal (IF) realizou de 05 a 07 de dezembro o 12º Curso de Hidrologia Florestal, no Laboratório de Hidrologia Florestal Walter Emmerich, localizado no Núcleo Cunha do Parque Estadual da Serra do Mar (PESM).

O curso foi oferecido aos alunos de graduação em geografia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp) de Ourinhos, que puderam conhecer as instalações de pesquisa do laboratório. As palestras e aulas práticas de campo foram ministradas pelos pesquisadores científicos do IF Maurício Ranzini e Francisco Arcova.

Este foi o último de um total de seis eventos realizados no ano de 2016, com a participação de aproximadamente 140 estudantes de graduação e pós-graduação. “Neste ano realizamos do 9º ao 12º Curso de Hidrologia Florestal, o 25º Workshop de Bacias Hidrográficas em Botucatu e ministramos como convidados uma disciplina na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) de Diadema”, relata Ranzini.

Sinergia entre as instituições públicas estaduais
“O curso surgiu a partir de demanda das universidades para que os recebêssemos”conta o pesquisador Maurício Ranzini. “Na década de 1990 estabeleceu-se uma cooperação com a Unesp de Botucatu  que começou a organizar, junto ao Instituto Florestal, o evento anual Workshop de Bacias Hidrográficas. Um professor tinha conhecido nosso laboratório, e como eles não tinham um lá na universidade, solicitou essa parceria. Aí outras universidades (Unesp de Ourinhos, Unesp  de Sorocaba, Universidade Federal ural do Rio de Janeiro, Unifesp Diadema) também começaram a requisitar visitas e nós começamos a organizar esses cursos. A partir de um determinado ano, passamos a chamá-lo de curso de hidrologia florestal. Não é um curso regular que abre inscrições, mas são demandas de universidades e pesquisadores interessados que pedem ao IF sua realização”.

O pesquisador ressalta a importância do trabalho conjunto entre as instituições. “Nós organizamos a parte técnica e científica. As atividades do curso são ministradas por nós, da seção de engenharia florestal do Instituto. Mas a administração do local é da Fundação Florestal (FF). Então essa parte de logística, hospedagem, alimentação é realizada por eles, através do gestor do Núcleo de Cunha” informa.

Os alunos têm a oportunidade de entrar em contato com os equipamentos e conhecer as estruturas do Laboratório de Hidrologia. “Primeiro damos aulas teóricas. Mas como ninguém quer viajar horas para depois ficar o tempo todo sentado, passamos o mínimo necessário sobre a história do Laboratório e as atividades e pesquisas ali realizadas. Aí vamos a campo”, reforça Ranzini.  “Temos três microbacias  experimentais, três lisímetros…  toda uma estrutura que permite que os próprios alunos possam aprender a fazer as medições. Não adianta ficar só no livro sem praticar” afirma.

“A universidade tem um enfoque bastante teórico e muitas vezes não tem as condições de fazer a coisa na prática. Toda teoria deve ser acompanhada de prática. E esse é o forte dos nossos cursos” , complementa Francisco Arcova.

 

Tradição na difusão do conhecimento
Uma cooperação técnica estabelecida com o governo do Japão na década de 1980 resultou na criação do Laboratório de Hidrologia Florestal Walter Emmerich. Pode-se dizer que foi o laboratório é pioneiro em pesquisas de hidrologia florestal em Mata Atlântica. “No mundo havia muita pesquisa em clima temperado, mas na região dos trópicos sempre foi algo mais restrito”, conta Ranzini. “Os japoneses dotaram uma área nossa de infraestrutura em hidrologia florestal e capacitaram pesquisadores do Instituto Florestal. A nossa missão era transmitir os conhecimentos para os países da América do Sul e também para os países lusófonos da África. Na década de 1990, foram realizados 10 cursos de manejo de bacias hidrográficas patrocinados pelo governo do Japão. Mas quem deu o curso foram pesquisadores do IF”, relata Arcova.

O patrocínio dos japoneses terminou em 1999, mas o Instituto deu prosseguimento. “Os japoneses até comentam que de todos projetos que eles tem no mundo inteiro, foi a primeira vez um projeto teve continuidade depois que eles foram embora”, descontrai Ranzini.

Arcova calcula que cerca de 1500 pessoas já foram capacitadas em hidrologia florestal pelo IF.

“Muitos dos que vieram fazer nossos cursos têm hoje altos cargos em seus países, até ministros”, cita Ranzini. Um desses casos resultou na Cooperação Técnica firmada com o governo do Equador em 2012.

Referindo-se aos alunos dos cursos mais recentes, Arcova menciona que eles ficam muito interessados ao descobrirem que o projeto gerou muita informação científica. “Até hoje continuamos publicando artigos científicos e esses resultados são mostrados nas palestras”.

“Não é só o IF que desenvolve pesquisa em Cunha. O Laboratório é aberto a quem quiser. Já tivemos vários colegas das universidades que foram lá pra realizar seus mestrados e doutorados. Alunos de graduação também podem solicitar para realizarem por lá as pesquisas de seus Trabalhos de Conclusão de Curso”, informa Ranzini.

Protegendo a água para a população
A primeira bacia hidrográfica experimental do Laboratório Walter Emmerich começou a ser monitorada em 1982. São quase 35 anos de monitoramento contínuo. Arcova explica que estudos hidrológicos são de longo prazo, pois os projetos de hidrologia florestal dependem em parte da variabilidade climática. “O clima em regiões tropicais varia bastante entre os anos. Então é preciso ter uma série histórica representativa para que se possa realmente confiar nos resultados”, conta.

Ranzini reforça a importância dos dados gerados no Laboratório. “Não é qualquer um que tem uma série história de 30 anos. A longo prazo estamos percebendo uma tendência da precipitação a diminuir”, alerta.

A localização do Laboratório é estratégica, visto que aquela área é produtora de água. A bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul abastece inúmeras cidades do Vale do Paraíba em São Paulo e no Rio de Janeiro. Ela tem dois grandes rios que dão inicio ao Rio Paraíba do Sul: o Rio Paraitinga e o Rio Paraibuna. As nascentes do Paraibuna estão a aproximadamente 15km de distância do Laboratório. Deste modo toda a pesquisa realizada ali é bastante importante para o conhecimento do comportamento hidrológico da região.

O Rio Paraíba do Sul, que abastece quase 9 milhões de habitantes somente no Rio de Janeiro. O Rio Paraibuna é quase que todo protegido em função do Parque Estadual da Serra do Mar, com exceção desses 15km que estão fora e têm basicamente agricultura de subsistência e pastagens. Mas quando está dentro do Parque, fica totalmente protegido até a represa de Paraibuna.

 

Fotos: Acervo Instituto Florestal

Mais informações: Maurício Ranzini e Francisco Arcova – Tel.(11) 2231-8555 / Ramal 2030