09/11/2016

Sabiá-laranjeira, ave símbolo do Brasil

O Instituto Florestal (IF) realizou pesquisa em um remanescente de Mata Atlântica que identificou três espécies de sabiá como as principais dispersoras das sementes do pau-incenso, que é uma espécie exótica invasora. O estudo foi realizado no Parque Estadual Alberto Löfgren (PEAL), unidade de conservação localizada na zona norte paulistana. Os dados foram obtidos em um monitoramento de longo prazo da avifauna, realizado entre 2014 e 2015.

O pau-incenso é uma árvore originária da Austrália. A espécie foi disseminada ao redor do mundo para uso paisagístico ou como cerca viva. Na Mata Atlântica, o pau incenso pode causar a degradação de ecossistemas nativos. Um dos objetivos da pesquisa foi verificar as espécies de aves que fossem potencialmente dispersoras das sementes do pau-incenso. As aves identificadas no estudo são o sabiá-coleira, sabiá-poca e o sabiá-laranjeira. Este último, a ave símbolo do Brasil.

Sobre a identificação dos sabiás como principais atores neste processo, a estagiária de biologia do IF Mariana Campagnoli conta que os resultados eram esperados. “Observávamos sabiás se alimentando de frutos de pau-incenso com frequência. Durante a realização do meu projeto de iniciação científica, percebemos que alguns dos capturados continham sementes da espécie em suas fezes. A partir disso, pensamos que talvez este grupo de aves pudesse ser um importante dispersor do pau-incenso. Resolvemos então pesquisar isso mais a fundo, realizando mais capturas”, conta.

Mariana destaca que a captura com rede de neblina é um método eficiente no levantamento de aves que circulam abaixo do dossel florestal, mas que não permite a amostragem completa da comunidade de aves do PEAL. No entanto, dentre as espécies capturadas, os sabiás foram aqueles que mais apresentaram sementes de pau-incenso nas fezes, o que indica estes animais devem ter papel importante na dispersão dessa espécie vegetal.

“Pelo fato do pau-incenso ser uma espécie exótica que se encontra disseminada por todo o PEAL e também na Cantareira, acredito que mais conhecimento acerca de como o processo de invasão pode ter se dado é crucial para que o problema seja tratado com cuidado e para que possa ser evitado em outras unidades de conservação”, conclui Mariana.

Para o pesquisador científico e ornitólogo do Instituto Florestal Alexsander Zamorano Antunes, que orientou Mariana durante a pesquisa, a dispersão da semente é só o começo da história. “Muita coisa ainda vai acontecer até termos uma árvore frondosa. A semente pode cair num lugar que não favorece sua germinação ou o estabelecimento da plantinha, ser destruída por caruncho ou contaminada por fungo. Caso germine, a luz pode não ser suficiente ou a mudinha pode até crescer bem, mas acabar sendo devorada ou pisoteada. Depois desse filme de terror aumenta a nossa admiração por qualquer árvore adulta que encontramos, não é? Assim, entendemos que é preciso conhecer melhor a ecologia do pau-incenso no parque, por exemplo, quais fatores favorecem ou inibem o seu estabelecimento?

Selo comemorativo de 130 anos

E esse trabalho deixamos para os colegas botânicos”, brinca Alexsander, que defende o constante diálogo e a integração entre os diferentes setores de pesquisa.

O estudo identificou ainda que a passagem das sementes pelo trato digestório das aves não alterou as taxas de germinação.

A pesquisa teve ainda a colaboração do pesquisador científico Sérgio Garcia e da técnica Sebastiana Silva, ambos do setor de sementes do IF.

O artigo “O papel das aves na dispersão e germinação de sementes do pau-incenso (Pittosporum undulatum Vent.) em um remanescente de Mata Atlântica” foi publicado na Revista do Instituto Florestal, volume 28, número 01. Neste ano, as publicações do Instituto Florestal trazem o selo comemorativo de 130 anos da instituição, a contar à partir da criação da Comissão Geográfica e Geológica, que daria origem também ao Instituto Geológico.

Alternativas de alimentação para o sabiá
Os sabiás têm uma dieta equilibrada constituída por frutas e bichinhos. Alexsander conta que no Parque já foram observados sabiás ingerindo frutos de 52 espécies de plantas. Perguntado se uma possível supressão do pau-incenso poderia prejudicar a sobrevivência dessas espécies de sabiá, o pesquisador respondeu que sim, caso não houvesse outra fonte alternativa de alimento. “Nós estamos estudando se a oferta de frutos maduros do pau-incenso é maior quando há menos frutos das outras espécies. Outra coisa que ainda não sabemos é sobre os nutrientes que cada fruta fornece. Pode ser que o pau-incenso tenha algo que as outras não têm, mas por hora é só especulação”, conclui Alexsander.

O Instituto Florestal forma novos cientistas
Mariana começou no Instituto Florestal em 2014. “Dentre todas as opções foi a que mais me interessou, pois teria oportunidade de trabalhar no campo e realizar minha iniciação científica”, conta.

De acordo com ela, seu interesse pelas aves só surgiu após sua entrada na instituição. “No começo as aves eram mais uma ferramenta para estudar ecologia e conservação, áreas que tenho grande interesse. Com o tempo e a prática fui gostando cada vez mais do grupo”, recorda Mariana.

“No primeiro ano de estágio, junto com o Alex, completei a minha iniciação científica sobre o impacto da invasão de palmeiras exóticas sobre a comunidade de aves do PEAL. A partir deste projeto, conseguimos desenvolver outros, como este sobre o papel das aves na dispersão do pau-incenso”, complementa Mariana, que,após a licenciatura, pretende seguir como pesquisadora nas áreas de ecologia e conservação de aves. “O próximo passo é fazer mestrado”, conclui.

A importância do monitoramento de aves no Parque
Apesar de ser uma área relativamente pequena (187 hectares), o Parque Estadual Alberto Löfgren é um laboratório vivo que abriga remanescentes da mata atlântica e contribui para a manutenção de um corredor ecológico que conecta a cidade de São Paulo à Serra da Mantiqueira.

De acordo com Alexsander, o monitoramento das aves do PEAL é utilizado como uma forma de avaliar o estado de conservação da área como um todo. “Acreditamos que se as aves estão se saindo bem, os outros seres vivos mais difíceis de estudar também estão, e que o parque está cumprindo com o seu papel em preservar as plantas e os animais”, afirma.

Foto: Paulo Muzio

Mais informações: Pesquisador científico Alexsander Zamorano Antunes – Tel. (11) 2231-8555 – Ramal 2028