13/04/2016

O curso valoriza a expertise do corpo técnico da casa e oferece formação em uma área pouco contemplada e bastante demandada

Entre os dias 28 de março a 01 de abril ocorreu o primeiro módulo do IV Curso de Introdução ao Manejo de Unidades de Conservação (UCs) realizado pelo Instituto Florestal (IF). O curso tem como objetivo oferecer formação básica direcionada ao planejamento e ao manejo de UCs e é voltado a profissionais e estudantes de diversas áreas do conhecimento.

O evento é organizado pela Divisão de Reservas e Parques Estaduais (DRPE) do IF e teve sua primeira edição em dezembro de 2013, com uma carga horária de 30 horas. De lá pra cá, 170 alunos já passaram pelo curso e os temas foram sendo ampliados, o que levou à criação de módulos. Nesta 4ª edição, a carga horária foi estendida para 105 horas e dividida em três módulos: I – A história e a importância da conservação, II – Programas de manejo, e III – As Unidades de Conservação e suas interfaces. Essa divisão surgiu, principalmente, a partir das avaliações que foram feitas nas edições anteriores pelos participantes e da necessidade de expandir os temas abordados. “Foi através das sugestões dos alunos e professores que ampliamos alguns temas e fomos atrás de profissionais do IF e da Secretaria do Meio Ambiente (SMA) que estariam aptos a falar sobre esses temas” explica o Dr. Frederico Arzolla, pesquisador do Instituto e membro da comissão organizadora.

Como ressaltado pela também pesquisadora da casa e uma das organizadoras do curso, Gláucia de Paula, “o Instituto Florestal tem pessoal preparado para abordar os temas do manejo de Unidades de Conservação por estar à frente da gestão das UCs de São Paulo desde a criação delas até 2007, com a vinda do Sistema Estadual de Florestas (SIEFLOR)”.

O Módulo I, que ocorreu na sede do IF em São Paulo, teve como temas ministrados o Histórico e consolidação das categorias de Unidades de Conservação pelo SNUC; Reflexões sobre a conservação da biodiversidade; O Uso de geotecnologias como suporte ao manejo de Unidades de Conservação; Conservação de ambientes costeiros marinhos e avifauna insular; Áreas de Proteção Ambiental Marinhas; Unidades de Conservação e a proteção dos recursos hídricos; Comunidades tradicionais e Unidades de Conservação; Patrimônio Arqueológico, Histórico e Cultural; A gestão de Unidades de Conservação de Proteção Integral; A gestão de Unidades de Conservação de Uso Sustentável; Programa RPPN Paulistas; Pagamentos por serviços ambientais para RPPN Paulistas; e Propostas de criação, redefinição de limites e (re)categorização de Unidades de Conservação.

O corpo docente foi composto por pesquisadores e técnicos do IF, da Fundação Florestal (FF), da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA) e do Núcleo de Estudos e Pesquisa Ambientais (NEPAM) da Unicamp. Os docentes deste primeiro módulo foram: Gláucia de Paula, Alexsander Antunes, Monica Pavão, Fausto Campos, Felipe Souza, José Luiz de Carvalho, Eliane Simões, Clayton Lino, Fernando Descio, Francisco Vilela, Marcos Campolim, Ocimar  Bim, Oswaldo Bruno e Frederico Arzolla.

Pesquisador do IF José Luiz de Carvalho ministra palestra sobre a conservação dos recursos hídricos

Ao todo foram oferecidas 50 vagas e a procura mais uma vez foi grande – 150 pessoas entraram em contato com a organização do curso para solicitar inscrição em apenas 11 dias. Entre os participantes, 64% eram profissionais (sendo 15 técnicos da Secretaria do Meio Ambiente, entre FF, Coordenadoria de Parques Urbanos – CPU e IF), 24% alunos de graduação das áreas de Biologia, Meio Ambiente, Geografia, Gestão Ambiental, Engenharia Ambiental, Engenharia Florestal e Planejamento Territorial, e 12% proprietários e técnicos de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs).

Estiveram representadas seis instituições de ensino (USP, UNIFESP, UNESP, UFABC, UNISA e Uninove), e quatro RPPNs (Fazenda Catadupa, no município de São José do Barreiro, Fazenda Renópolis, no município de Santo Antônio do Pinhal, Rio dos Pilões, no município de Santa Isabel e o SESC do município de Bertioga – em instalação).

Neste módulo, também foi realizada uma visita ao Museu Florestal Octávio Vecchi. Ao final, ocorreu a avaliação do curso, que consistia em um formulário que foi preenchido pelos alunos e docentes. Como destacado por Gláucia e Frederico, esse feedback é muito importante, pois serve de base para melhorias nas próximas edições e mostra um reconhecimento positivo dos participantes, principalmente no que diz respeito à experiência prática transmitida pelos palestrantes.

Esse ponto também foi destacado por Leni  Lima, diretora do Serviço de Comunicações Técnico-Científicas do IF e participante dessa IV edição: “o principal diferencial do curso é a transferência de conhecimento pautada na experiência prática, e não só na teoria, sobre os assuntos, sendo que muitos dos docentes estão ou estiveram envolvidos diretamente na gestão de UCs”. É o caso do pesquisador Fernando Descio, que ministrou a aula “A gestão de UCs de Proteção Integral” e tem cerca de 25 anos de experiência como gestor do Parque Estadual da Cantareira e atualmente é diretor da DRPE. Essa rica troca de experiências vai além do corpo docente, a origem variada do corpo discente permite também um intercâmbio de conhecimento entre os participantes.

O segundo e o terceiro módulo dessa 4ª edição serão realizados nos períodos de 25 a 29 de abril e 16 a 20 de maio, respectivamente, e a 5ª edição deve ocorrer no segundo semestre deste ano.

 

O que são Unidades de Conservação da Natureza?

Os processos de fragmentação e perda de hábitats estão entre as alterações ambientais mais marcantes causadas pelo homem, pois constituem as principais causas da perda de espécies, representando grandes ameaças à biodiversidade.

Diante disso, a intervenção humana no sentido de assegurar a sobrevivência das espécies se faz necessária e uma das ferramentas utilizadas pelo homem é o estabelecimento de “áreas protegidas”, que têm papel fundamental na proteção e preservação do meio ambiente.

No Brasil, temos as Unidades de Conservação da Natureza (UCs), que são espaços territoriais e marinhos detentores de atributos naturais e culturais de especial relevância para a manutenção do equilíbrio ecológico. São instituídas pelo poder público através do Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC (Lei Federal nº 9.985/2000 e decreto nº 4.340/2002), são divididas em dois grupos: as de proteção integral e as de uso sustentável. O objetivo das UCs é a proteção da fauna, flora, recursos hídricos, solos, paisagens e processos ecológicos pertinentes aos ecossistemas naturais. Elas representam uma das condições básicas para a conservação e perpetuação da biodiversidade, contribuindo igualmente para a manutenção dos modos de vida das culturas tradicionais associados à proteção da natureza.

Em São Paulo, o processo de criação das áreas protegidas teve início no final do século XIX com a criação do Parque Estadual Alberto Löefgren, em 1896. Embora o Instituto Florestal tenha recebido sua atual denominação somente em 1970, suas atividades à frente da criação e gestão de UCs remontam à criação da primeira unidade  até o ano de 2006, com a criação SIEFLOR (Decreto nº 51.453/2006), quando a gestão das UCs do Estado de São Paulo passou a ser compartilhada com a FF.

Palestrantes Felipe Souza (FF) e Fausto Campos (IF). As duas instituições compartilham a gestão das Unidades de Conservação do Estado de São Paulo

A criação e o manejo de uma Unidade de Conservação, assim como o estabelecimento de suas respectivas zonas de amortecimento, constituem alguns dos mais eficazes instrumentos de planejamento territorial ambiental, contribuindo para a implantação das políticas públicas voltadas à proteção do meio ambiente e do patrimônio histórico e cultural ligado ao meio ambiente.

Embora seja de extrema importância a difusão de conhecimentos relacionadas à gestão de UCs, há ainda uma enorme carência de cursos voltados a esse tema, tanto na graduação quanto na pós-graduação. Dessa forma, ao fornecer essa formação, o IF espera contribuir para preencher essa lacuna, buscando transferir aos alunos conhecimentos e experiências que o IF possui na área.

Os organizadores não escondem o objetivo de crescimento do projeto: “há anos nossa intenção é oferecer uma pós-graduação latu sensu nessa área aqui no IF, mas por enquanto estamos dando pequenos passos em direção a isso, melhorando e construindo essa proposta a cada edição” comenta a Gláucia.

 

Texto: Serviço de Comunicações Técnico-Científicas / Tamires Gonçalves

Fotos: José Senhorinho

Mais informações: Divisão de Reservas e Parques Estaduais – Tel.(11) 2231-8555 – Ramais 2105/2054/2094