14/04/2014

Fogo para o bem da diversidade!!!

Que as plantas do Cerrado evoluíram convivendo com o fogo a ciência já vem demonstrando há um bom tempo. No entanto, as campanhas conservacionistas no Brasil foram tão eficazes apregoando a proteção dos ecossistemas contra o fogo que agora é preciso desencadear uma nova campanha, desta vez a favor do fogo como ferramenta de manejo para a manutenção da diversidade de fisionomias e das espécies endêmicas do Cerrado.

Tal campanha é necessária e urgente porque, como consequência da supressão total do fogo, algumas unidades de conservação do Cerrado já perderam boa parte da diversidade característica deste bioma. É o caso da Estação Ecológica de Assis, por exemplo, onde as fisionomias campestres que existiam há meio século já desapareceram e espécies exigentes em luz já não são mais observadas. Este processo está se repetindo em muitas outras áreas protegidas no Estado de São Paulo e em outras regiões do Brasil.

Para evitar que as perdas de diversidade decorrentes da supressão total do  fogo continuem acontecendo, é preciso que a nova lei florestal (Lei 12.651, de maio de 2012) seja implementada. Em seu Artigo 38, que trata da regulamentação do uso do fogo, no inciso II está a permissão para:

II – emprego da queima controlada em Unidades de Conservação, em conformidade com o respectivo plano de manejo e mediante prévia aprovação do órgão gestor da Unidade de Conservação, visando ao manejo conservacionista da vegetação nativa, cujas características ecológicas estejam associadas evolutivamente à ocorrência do fogo.

O manejo do fogo visando à conservação dos ecossistemas savânicos é prática comum em outras regiões do mundo, como a África e a Austrália, e é com base nessas experiências bem sucedidas que os membros da Association for Tropical Biology and Conservation – ATBC, a sociedade científica de ecologia tropical mais reconhecida no mundo, acabam de publicar uma resolução em favor da utilização do fogo como ferramenta conservacionista no Cerrado brasileiro.

A Resolução da ATBC deve servir de respaldo à lei e estímulo às pesquisas sobre o assunto. Mais importante ainda, a prática de manejo do fogo não pode deixar de ser incluída entre as ações previstas durante a elaboração ou atualização dos Planos de Manejo de unidades de conservação do Cerrado. Perder tempo sem ação, neste caso, significará perder aos poucos a biodiversidade do Cerrado!

 

Texto e fotos: Giselda Durigan

Mais informações: Pesquisadora científica Dra. Giselda Durigan – Floresta Estadual de Assis – Tel.: (18)3325-1066 / (18)3325-1045 / (18)3323-8330